Wednesday, February 21, 2007




                 
                           

                                                             Luz de Luciola lusitanica











                        Bailando no ar, gemia inquieto o vaga-lume:
                          "Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
                              Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
                     "Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
                       "Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
                        Que, da grega coluna à gótica janela,
                             Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela
                        "Mas a lua, fitando o sol com azedume:
                              "Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela Claridade imortal,
                             que toda a luz resume"!Mas o sol, inclinando a rútila capela:
                          Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
                      Enfara-me esta luz e desmedida umbela...
                         Por que não nasci eu um simples vaga-lume?"...


                         Machado de Assis




                       O apanhador de pirilampos


                       A poluição dos escapes, os herbicidas
                               foram-vos empurrando para fora do Pinheiro Manso
                                 antiga minha luz particular em noites doces procuro-vos
                        e nada encontro senão lixo entre as folhas
                         fazeis-me tanta falta neste mundo escuro.


                          Fernando Assis Pacheco, " A Bela do Bairro e Outros Poemas" 

                        (1986)





Como detetar, preservar ou atrair pirilampos no seu jardim





                                                       



Hoje em dia cada vez mais as pessoas procuram refúgio na natureza para refazer energias, meditar, repousar ou apenas observar os encantos naturais. Assim para manter o seu jardim, saiba que nele existe um ecossistema, em regra, muito mais complexo do que alguma vez pensou. Microogranismos, por exemplo, fazem dos nossos jardins autênticos refúgios faunísticos, fazendo deles o local preferido para viverem. Muitos deles, são muito úteis pois mantêm comunidades inteiras vivas!
No mundo natural, os ecossistemas são geridos por leis da sobrevivência em que aspetos da vida, como comer, dormir, acasalar fazem parte do dia a dia, aspetos esses que são familiares até nos humanos. O seu jardim, é a casa para milhares de vidas! Sendo você quem garante a gestão desse microcosmos, cabe a si decidir o futuro do equilíbrio do seu pequeno refúgio natural.
Os pirilampos, um dos habitantes desse mundo desconhecido, são predadores de lesmas, caracóis, minhocas, além de que consomem outros insetos, tendo um papel decisivo na proteção das plantas ornamentais e de outras culturas que tenha no jardim!

Quando,como e onde posso procurar por pirilampos? Os pirilampos geralmente são mais visíveis na fase adulta, quando para comunicarem, colocam-se em locais com boa visibilidade. Isto acontece sobretudo em locais escuros, em que a sua luz se torna mais destacável em relação ao ambiente em redor. Nas bermas de caminhos de terra batida em que cresça vegetação nas margens, junto à margem de rios, debaixo de arbustos, em matas e descampados e em jardins caseiros espaçosos com zonas escuras são alguns dos locais  onde são vistos.
A melhor altura para ver os pirilampos é em Maio e Junho sendo também possível vê-los em Abril e Julho e por vezes mesmo em Agosto ou Março. Isto acontece sobretudo a seguir ao pôr do sol até cerca das 23.30 da noite. Certas espécies mantêm, a atividade luminosa até ao amanhecer! Também são visíveis na fase larvar porque emitem luz igualmente durante esta fase: o tempo de vida de um pirilampo em estado selvagem, na Europa, é geralmente de 2 anos (podendo ser 3 ou até apenas 1), sendo que mais de 90% desse tempo é passado na fase larvar.
Os ovos dos pirilampos são luminosos, sobretudo durante as primeiras horas após serem postos e pouco antes de eclodir. Assim que nascem, já brilham, portanto!
As larvas são luminosas durante todo o ano, mas sobretudo no outono, inverno e primavera, normalmente sempre que as temperaturas estejam amenas e o solo esteja húmido.
Em certas noites húmidas de verão, sobretudo em zonas do litoral ou de montanha, também se podem observar larvas ativas.
 Mas ao contrário dos adultos, as larvas não se colocam geralmente em locais de grande visibilidade, escondendo-se antes entre as ervas, no húmus, na base de muros ou em zonas arbustivas densas, sendo visíveis sobretudo após uma chuvada (ou em noites húmidas) e em locais escuros ou abrigados da luz direta e intensa.
Brilham geralmente de forma pausada e lenta e fazem-no desde pouco depois do pôr de sol até ao amanhecer. É possível que brilhem durante o dia, debaixo do solo.
 Podem ser observadas durante o dia, deambulando em busca de presas: caracóis, lesmas, minhocas e larvas de insetos (tal como à noite).
Como atrair os pirilampos ao meu jardim ou proteger os que existem? Primeiro precisa de saber se os pirilampos existem no seu quintal, fazendo observações com alguma regularidade (veja como, mais acima).
Se após um certo tempo achar que não existem, deverá reduzir as emissões desnecessárias de luz, usando poucas ou nenhumas luzes no jardim. Se precisar mesmo de usar iluminação, use apenas durante o tempo necessário.
As luzes artificiais poluem o ambiente e muito provavelmente, impedem os pirilampos de se comunicar reduzindo a visibilidade da sua luz assim como a capacidade de se detetarem uns aos outros, e até de se protegerem dos predadores, assim como aumentam os gastos económicos.
Para uma lâmpada vulgar funcionar, são necessários muitos recursos, que para ser retirados, transportados e processados poluem ainda mais atmosfera.
 Os pirilampos, por sua vez, utilizam a energia de forma muito mais eficaz, aproveitando de forma útil quase 100% da luz que produzem, enquanto uma lâmpada normal apenas utiliza eficazmente 5%!
Deverá também optar por manter o jardim com alguma variedade de plantas e arbustos, permitindo contudo a presença de alguma manta morta ou húmus nos canteiros assim como algum pequeno amontoado de pedras para fazerem de abrigo não só para os pirilampos, mas como também para as suas presas e vários outros animais.
As zonas abrigadas do sol direto, são particularmente importantes para estes animais.
Para perceber se existem probabilidades de existirem pirilampos no seu quintal, poderá também verificar se existem caracóis e lesmas pois eles são o alimento preferido para vários destes insetos luminosos e sua presença é fundamental para a sobrevivência de uma colónia de pirilampos.
Se por acaso, conseguir determinar que não existem pirilampos no seu quintal , poderá verificar nas redondezas em locais propícios e em passeios noturnos calmamente,  para perceber se eles existem no exterior.
Se o seu jardim for próximo a um local destes, os pirilampos provavelmente até podem ainda existir no seu quintal, mas você é que ainda não se apercebeu.
Dois conselhos importantes: não use produtos químicos no seu jardim como herbicidas ou inseticidas (na verdade prejudicam não só os pirilampos como as águas subterrâneas, os solos e as próprias plantas contaminando e poluindo um pouco de tudo) assim como tente não tirar uma boa parte do húmus dos canteiros, pois este é essencial ao equilíbrio do frágil e delicado ecossistema do seu jardim.
Se o fizer, faça-o apenas parcialmente (mas evite se possível).
Esperamos que isto ajude a garantir a saúde ambiental e beleza do seu jardim. Divirta-se!