As primeiras descrições (muito básicas), que se conhecem sobre o comportamento luminoso (e o habitat) da fase larvar do P. metzneri, foram feitas por mim em 2007 (Fonte).
Raphael de Cock e Rosé Ramón Guzmán-Álvarez, em Maio de 2012, fizeram uma investigação de campo junto ao Rio Séver em 2012 sobretudo no lado espanhol, mas também visitaram o lado português (Portagem, Serra de S. Mamede), durante duas horas (19-21h) no dia 25 de Maio de 2012, tendo encontrado nesta localidade Portuguesa, 4 larvas de P. metzneri.
Ambos fizeram umas descrições mais aprofundadas sobre o brilho da larva de P. metzneri, referindo que observaram pulsares luminosos que duravam 10-15 segundos em larvas de Phosphaenopterus, com intervalos (entre os brilhos) de duração irregular.
Também referiram que o brilho constante observado nas pupas, podia ser induzido por perturbação (pelo facto das larvas reagirem com brilho à vibração, ao toque e ao barulho).
Também observaram que os machos tinham um comportamento luminoso semelhante às larvas, brilhando apenas quando perturbados (através de um par de órgãos luminosos, situados no último segmento abdominal) e que a luz dos machos de P. metzneri, não só incide ventralmente, como dorsalmente, através de pontos menos pigmentados na cutícula.
Este aspeto (brilho bem visível do lado dorsal), era já esperado por mim, ao observar os 3 machos adultos depositados no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, nos quais reparei rapidamente que tinham maior transparência na cutícula situada acima dos órgãos luminosos (no lado dorsal).
A fêmea adulta de P. metzneri também tem a transparência da cutícula no lado dorsal (acima das duas lanternas) que se verifica nos machos adultos da espécie..
Luz de fêmea de P. metzneri (plano dorsal)
Nós observámos a luminosidade produzida por um macho adulto de P. metzneri de Coruche, e notámos que brilhou (após perturbação) da seguinte forma:
- 2 e 3 brilhos (pulsares) de 4 segundos
-Brilho de 25 segundos
-Brilho de 97 segundos
Intervalos (entre os brilhos) de duração irregular
Na nossa opinião, foram observados, dois tipos de emissão luminosa:
-Brilhos (pulsares) curtos.
-Brilhos longos.
Como já mencionamos anteriormente, uma vez que a espécie não tem estatuto de proteção e uma vez que a população estudada junto a Coruche não se localizava numa zona protegida, o nosso projeto coletou alguns exemplares para realizar algumas observações.
Uma larva capturada a 23 de Março de 2017, em Coruche, deu origem a uma fêmea adulta.
Foi portanto a primeira fêmea adulta, alguma vez vista pela ciência (apenas se conheciam machos adultos, pupas e larvas) (Fonte).
Iniciou a fase de pupa a 25 de Abril, emergiu como adulta a 8 de Maio e morreu a 24 de Maio
Esta fêmea media 15 mm de comprimento e as antenas mediam 3 mm (aqui estava suja de lama e na fase final da sua vida):
Plano dorsal
Plano ventral
Em termos de comportamento luminoso, em relação a esta fêmea adulta de P. metzneri, pudemos observar o seguinte:
-Brilho que durou 60 segundos
-Brilho que durou 90 segundos
-2 pulsares consecutivos de 4 segundos com uma luz forte, seguidos de brilhos que podiam durar 120, 150 ou até 200 segundos (com intensidade variada).
Os intervalos entre os brilhos, eram de duração variável e muitas vezes, mantinha sempre luzes acesas ainda que com baixa intensidade.
-2 pulsares de 3 segundos (e nos intervalos de cada brilho a luz nunca chegava a apagar completamente).
-Sem perturbação aparente, a fêmea por vezes ficava com a luz acesa por mais de 5 minutos (e geralmente com uma luz de baixa intensidade).
-Nesta fêmea em particular, parte do brilho não parece apenas vir de duas lanternas (situadas no último segmento abdominal), mas parece antes ter uma distribuição mais alargada, e extensiva, possivelmente incluindo mais segmentos abdominais.
Esta luminosidade mais extensa, geralmente é de baixa intensidade, mas é perfeitamente visível a olho nu e atinge maior intensidade nos últimos segmentos abdominais.
Na nossa opinião, foram observados portanto, pelo menos, 3 tipos diferentes de emissões luminosas, nesta fêmea adulta de Phosphaenopterus metzneri:
-Brilhos (pulsares) de curta duração.
-Brilhos de longa duração
-Brilho de baixa intensidade e longa duração, emitido em diferentes segmentos abdominais
Intervalos (entre os brilhos), de duração irregular.
Os pulsares de curta duração e os brilhos de longa duração, provavelmente, foram devido a perturbação (vibração, toque, som), pois aconteceram após segurarmos no recipiente de plástico onde estava o exemplar.
Menos fácil, será de explicar os brilhos de baixa intensidade e longa duração (não houve qualquer perturbação).
Luz produzida por uma pupa que deu origem uma fêmea adulta
Os ovos desta espécie, são esbranquiçados e aparecem envolvidos em um muco luminoso, que pode manter as suas capacidades luminosas por mais de 30 dias.
Também com pelo menos 30 dias de idade, as larvas, começam a brilhar desde o interior dos ovos, produzindo pulsares (de duração variável, mas que em muitas ocasiões, foram observados a durar 3 segundos).
O brilho pode ser muito esporádico e ocorrer apenas nos primeiros segundos, após os ovos estarem sujeitos a toque ou a vibração. Em 3 minutos de observações, os brilhos podem restringir-se a 2 emissões de curta duração e durante apenas os primeiros segundos de observação.
A eclosão das primeiras larvas ocorreu passados 40 dias após a postura dos primeiros ovos (e das últimas larvas levou 41 dias após a postura dos últimos ovos).
As larvas mediam em torno de 2,2 e 2,4 mm, com uma largura de cerca de 0,6 mm, 2 dias após nascer.
Plano ventral da larva de P. metzneri
Também observámos o brilho produzido por duas larvas de P. metzneri originárias da região de Coruche:
-um brilho de 4 segundos (tipo pulsar, com grandes variações de intensidade).
-um brilho de 90 segundos
-um brilho de 170 segundos
-um brilho de 195 segundos
-um brilho forte de 4 segundos, seguido de um brilho que durou ligeiramente mais de 200 segundos (de intensidade variada).
Na nossa opinião foram identificados 2 tipos principais, de emissões luminosas em larvas de P. metzneri:
-brilhos (pulsares) de curta duração
-brilhos de longa duração
Intervalos (entre brilhos) de duração variável.
Numa próxima investigação que iremos realizar sobre este tema, tentaremos aprofundar ainda mais o conhecimento sobre as emissões luminosas da espécie P. metzneri.
Local promissor para futuras saídas (Coruche)
Observações complementares
Um macho foi observado a subir para um local ermo (canto de um pano húmido, a cerca de 10 cm de altura), a abrir os élitros e a bater as asas, por uns 3 segundos.
Durante as nossas investigações, tentámos ver se os machos adultos voam, mas nunca observámos tal situação.
Ainda não sabemos ao certo se os machos, mediante certas circunstâncias, voam, mas futuras investigações serão necessárias para tentar responder a esta questão.
As larvas de P. metzneri evidenciaram atividade à superfície do solo, com temperaturas que variaram entre 6ºc e 28ºc.
Uma vez, uma larva que tinhamos em cativeiro (com cerca de 9 mm de comprimento), pareceu-nos que tinha fugido do seu recipiente e como tal deixámos de nos preocupar em colocar água no pequeno pedaço de substrato e no papel, que estavam no interior do recipiente.
Passados 3 dias, quando fomos a retirar o interior (já bastante ressequido), verificámos que a larva estava viva e que se movimentava normalmente.
A larva deve ter passado pelo menos dois dias, sem água e o recipiente, uma vez que foi considerado vazio, foi mantido num local quente (com temperaturas em torno de 30ºc).
Larva de P. metzneri (Erra, Coruche).
O nosso projeto realizou medições em alguns exemplares e estágios (como se pode ver em cima) e aqui colocamos mais algumas medições (incluem exemplares provenientes dos 3 núcleos principais, conhecidos até ao momento em Portugal):
Pupa (Coruche)- 10 mm de comprimento e 2,5 mm de largura
Larva (Coruche)- 13 mm de comprimento
Larva (Coruche)- 12 mm de comprimento e 2 mm de largura
Os 3 machos adultos que estão depositados no Museu Nacional de História Natural e da Ciência e que são provenientes de Montargil, têm as seguintes dimensões (comprimento): 5,5 mm, 6 mm e 7 mm.
Ernest Olivier, referiu 6 mm de comprimento e uma largura de 2 mm, para o macho adulto que ele examinou (proveniente de Portalegre).
A nível regional e até hoje, nunca foi observada coexistência entre Phosphaenus hemipterus e Phosphaenopterus metzneri.
Existem várias semelhanças entre ambos os géneros, nomeadamente a nível de órgãos reprodutores e hábitos alimentares, mas também existem algumas diferenças: tendo em conta as observações que obtivemos a partir de indivíduos mantidos em cativeiro, parece-nos também possível que o P. metzneri tenha mais resistência ao calor e à desidratação do que o Phosphaenus hemipterus (tal como a distribuição geográfica de ambas as espécies também parece sugerir), mas tal aspeto, ainda não foi detalhadamente abordado.
O macho de Phosphaenopterus tem élitros e asas muito maiores do que os machos de Phosphaenus
As nossas medições também parecem sugerir que as fêmeas de P. metzneri, são maiores do que as fêmeas de Phosphaenus hemipterus, mas poucos exemplares foram medidos até hoje.
A fêmea que consegui obter em 2019 (através uma larva capturada meses antes), foi fotografada por Filipe Lopes e pode ser vista aqui, juntamente com um macho que encontrei em Maio:
Estudos genéticos serão fundamentais para esclarecer as diferenças entre ambos estes pirilampos e nós já temos alguns exemplares preservados para esse efeito.
Também temos alguns exemplares guardados para serem oferecidos a museus (alguns dos quais serão depositados no Museu Nacional de História Natural e da Ciência).
Esperamos que a nossa investigação de alguma forma sirva para aumentar o conhecimento sobre esta espécie, tida como rara por alguns autores.
A nossas investigações sobre esta espécie, irão continuar.
Distribuição geográfica de Phosphaenopterus metzneri em Portugal:
Distribuição conhecida para o período de 1981-2019