Durante as nossas investigações, 3 núcleos principais, foram identificados no Sul da Estremadura, nos seguintes locais: Serra de Sintra, Serra da Carregueira e Serra de Monsanto.
Serra de Sintra
«Ilha» granítica e sienítica, num mar de rochas básicas, a Serra de Sintra apresenta-se sobranceira ao mar e estendida sobretudo no sentido Leste-Oeste, estando assim exposta às influências marítimas, o que lhe confere um estatuto claro de barreira de condensação.
Mesmo durante os longos meses secos de verão, muitos locais no alto da Serra, recebem regularmente alguma precipitação (precipitação oculta). Tal fenómeno acontece, por exemplo, quando as nortadas sopram ao longo da costa e sobem a Serra, formando nevoeiro no topo da Serra, enquanto nas zonas mais baixas do maciço, o tempo seco e ensolarado predomina.
A atestar esta diversidade de microclimas e a estabilidade e amenidade do clima local, está uma flora, que consoante a zona da Serra, apresenta espécies Atlânticas/Eurossiberianas, Mediterrânicas e até Macaronésicas/Paleotropicais do período Terciário.
Predominam aqui os andares Mesomediterrânicos e Termomediterrânicos, podendo ambos ser Húmidos ou Sub-Húmidos.
Os dados da estação da Pena, refletem relativamente bem, o clima húmido das zonas altas de Sintra:
Altitude: 450 metros (Fonte)
O núcleo populacional de pirilampos de Sintra, que acompanhamos desde 2005, com maior ou menor frequência, aparentemente é o que está melhor protegido de todo o Sul da Estremadura (sobretudo no Centro e no lado Oeste da Serra) pois tal é reforçado pela quantidade de indivíduos observados, e pelas condições fitoclimáticas (particularmente acima dos 300 metros), que aqui são favoráveis à ocorrência de pirilampos e à quantidade e extensão de habitats contínuos propícios (possuindo também menor perturbação direta e indireta que outros locais estudados no Sul da Estremadura).
A ocorrência de precipitação oculta durante a estação seca de verão, é relativamente frequente nas partes mais altas da Serra, e é particularmente favorável aos lampirídeos: pois a postura dos mesmos ocorre muitas vezes no final da primavera e no início do verão: no género Luciola, verificámos, em 5 casos diferentes, que após a postura, as larvas levavam entre 32 a 39 dias, a nascer (enquanto usando um caso como exemplo,para o género Lampyris registámos 41 dias e para a Lamprohiza paulinoi registámos 42 dias).
A precipitação oculta protege assim as pequenas e vulneráveis larvas da desidratação e também providencia condições ideais para a proliferação das suas presas preferidas (moluscos terrestres).
Mesmo no pino do verão, em zonas de altitude, é possível observar larvas de Luciola e Lampyris, nos solos da Serra, chegando por vezes a observar-se aglomerações consideráveis, no interior da floresta e nas bermas das estradas, (sobretudo Luciola) e debaixo de árvores de grande porte, onde a precipitação oculta, pode ser mais intensa (depositando-se nas folhas das árvores e caindo de forma mais constante e concentrada, nos solos).
Comparativamente, enquanto tal sucede em Sintra, na vizinha Serra da Carregueira, as condições secas predominam, e tanto nesta Serra como em Monsanto, as larvas dependem dos cursos de água (que ainda tiverem água), como a Ribeira de Barcarena e das raras chuvas de verão (quando são intensas e duradouras o suficiente), para se manterem ativas à superfície.
Ribeira de Barcarena (Fonte)
Mesmo após 4 meses secos, e em apenas cerca de 2 metros quadrados de solo florestal (coberto de manta morta e heras, por exemplo), nas zonas altas de Sintra, podem-se contar, pelo menos, 10 larvas de Luciola.
Na Serra de Sintra, encontrámos uma grande abundância de Luciola, tanto em carvalhais ( carvalho-negral e carvalho-cerquinho), pinhais (pinheiro-bravo, com cobertura arbustiva constituída por urzes, jovens medronheiros, por exemplo) como em zonas dominadas por exóticas (eucaliptos, cedros-do-bussaco e acácias), mas com grandes quantidades de manta morta e húmus.
As larvas normalmente são encontradas em zonas com vegetação mais densa do que os adultos.
Os machos aparecem a brilhar, sobretudo nas bermas das estradas (quando são escuras) e dos caminhos (especialmente nos que são rodeados por floresta,), nos descampados, mas também no interior denso da floresta. ainda que em menor número.
Em Sintra têm sido vistos a voar até alturas superiores a 20 metros, rondando, por vezes em grupos de 5 ou mais indivíduos, as copas de algumas árvores, sobretudo quando não está vento.
No extremo Oeste da Serra, em áreas rochosas (sienitos), assoladas muitas vezes pelos ventos do quadrante NW e cobertas de estevais, urzais e silvados, por exemplo, o género Luciola torna-se menos comum, dando lugar ao género Lampyris e Lamprohiza.
Como a Nortada. pode durar vários dias, por vezes vêem-se várias fêmeas a brilhar para tentar atrair um parceiro. pois os machos aparentemente têm mais dificuldade em coordenar o vôo, quando está muito vento, e assim dificilmente conseguem chegar até às fêmeas. .
Quando surge uma noite com o vento mais calmo, a maior parte das fêmeas, passado pouco tempo, cessa o brilho, pois logra o acasalamento (o mesmo foi observado na Serra da Carregueira). Chegámos a ver algumas fêmeas a pararem de brilhar e com machos perto delas, logo na primeira noite em que o vento acalmou.
O uso de luzes LED para atrair machos adultos, também confirmou esta tendência: em noites ventosas, praticamente nenhum macho chegava à luz LED, enquanto em noites calmas, vários machos (sobretudo Lampyris e Lamprohiza) chegavam até às nossas armadilhas, que eram dispostas no mesmo local.
Campo aberto no PNSC (Fonte)
Ainda que não seja o mais habitual, as fêmeas de Lampyris por vezes são vistas a brilhar no interior denso da floresta, enquanto tal nunca foi observado (em Sintra) para o género Lamprohiza.
Tanto Lampyris como Lamprohiza, também ocorrem em zonas baixas da Serra e até em terrenos agrícolas, sobretudo quando estes mantêm filas de arbustos (Prunus, Rubus, etc...), por exemplo, ou quando são menos intensamente cultivados.
Em prados naturais ou semi-naturais, onde abundam caracóis (Cepaea nemoralis, Cernuella virgata, Portugala inchoata, Ponentina sp. , Otala lactea e Theba sp), também se podem encontrar praticamente todas as espécies de pirilampos que ocorrem na Serra.
Por vezes, estes campos abertos, são o palco de grandes espetáculos luminosos, protagonizados sobretudo pelo género Luciola (e ocasionalmente também pela L. paulinoi), nos quais e de acordo com as nossas observações, podem estar envolvidos centenas de machos e dezenas de fêmeas.
Segundo o que temos observado, machos vindos de diferentes direções, congregam nestes locais, ricos em caracóis, porque provavelmente são atraídos pelo brilho dos seus congéneres.
Todas as espécies de caracóis mencionadas acima, já foram observadas, durante a nossa investigação, a serem predadas por larvas de Luciola e Lampyris.
Quando as larvas de Lampyris atacam o caracol da espécie Portugala inchoata, normalmente sobem para cima da concha do molusco e daí tentam morder os tentáculos ou a cabeça do caracol. O molusco por sua vez, roda a concha lateralmente (para ambos os lados e de forma alternada), de forma a roçar a concha no solo, para desalojar o seu atacante.
As larvas de pirilampo podem ser vistas a alimentar-se em conjunto, e larvas de Luciola com poucos dias de vida e cerca de 2,5 mm de comprimento, já foram vistas a atacar e a comer caracóis do género Truncatellina.
Ainda que já tenhamos encontrado algumas larvas de Lamprohiza paulinoi, estas nunca foram vistas a predar caracóis (mas sabemos que tal acontece).
Segundo as nossas observações, geralmente,movem-se menos rapidamente que as larvas de Lampyris e Luciola, e normalmente apresentam densidades populacionais, mais baixas (sendo sobretudo encontradas uma de cada vez e muito mais raramente às dezenas (mesmo fora do Sul da Estremadura nunca vimos mais de 60, em apenas uma saída noturna).
Também já testemunhámos necrofagia por parte das larvas de Luciola, em que estas se alimentavam em grupo de um caracol morto (P. inchoata) e até de uma aranha morta (impossível de identificar). .
Estas descobertas indicam que os lampirídeos, têm um papel ecológico no equilíbrio dos ecossistemas ainda mais importante do que se pensava, ao limitar a propagação de epidemias..
Portugala inchoata (Fonte)
Em Sintra, os adultos do género Luciola, aparentemente, são mais numerosos, desde Junho e até à primeira semana de Julho, sendo no entanto visíveis de Abril a Setembro (em Setembro, apenas observamos estes pirilampos em zonas altas).
Os adultos do género Lamprohiza aparecem aqui sobretudo nos meses de Maio e Junho e os adultos do género Lampyris, aparecem sobretudo em Junho e Julho, mas ainda são relativamente comuns na primeira quinzena de Agosto.
Nas zonas mais altas, podem ser vistas fêmeas de Lampyris até Setembro e em certos anos, até mesmo Outubro.
Na noite de 28 de Junho de 2010, e numa caminhada de 3200 metros, que durou duas horas, foi possível contar cerca de 1100 machos de Luciola.
Grandes quantidades destes pirilampos, foram também contadas, no lado oposto da Serra, a cerca de 6 km de distância, também em Junho e a uma altitude semelhante (400-480 metros).
Para que se tenha uma melhor ideia do que estamos a falar, ambos estes pontos, estão conectados em termos de habitat propício à ocorrência desta espécie, não significando contudo, necessariamente , que densidades semelhantes ocorram entre estes pontos (e os anos em que os pirilampos são muito numerosos, podem alternar com anos, em que são menos numerosos, tal como acontece com vários outros insetos).
A nossa investigação, apenas observou quantidades (bastante) superiores de pirilampos às mencionadas acima, em 3 ocasiões, perto da Ericeira (sobretudo em zonas arbustivas (carrasco, murta, silva, madressilva, entre outros) e em campos abertos (ricos em plantas como o funcho e a vara-de-ouro).
A Ericeira tem um bioclima de tipo Termomediterrânico Superior, Seco-Superior, contudo, muitas manhãs e tardes de verão, podem ser nubladas e recebe bastantes nevoeiros que são relativamente comuns nas noites de verão (registando-se precipitação oculta, nestas ocasiões).
Debaixo de grandes árvores, podem-se formar autênticos oásis e é comum a observação de larvas de Luciola e Lampyris, nestes locais e mesmo no pino do verão.
Os pirilampos de Sintra, estão a desaparecer?
Para tentarmos encontrar uma resposta, decidimos contar os pirilampos adultos avistados, durante as fases em que são mais abundantes, em percursos fixos e durante os anos de 2010, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2018 (também ocorreram contagens em outros anos e locais da Serra, mas a respetiva análise desses dados, não se enquadra neste objetivo).
Para o género Luciola, verificámos o seguinte padrão (do ano de menor abundância até ao ano de maior abundância, por ordem crescente): 2013, 2016, 2018, 2014 e 2010 (no ano de 2015 não foram contados).
E para o género Lampyris (com a presença de duas espécies na região), testemunhámos o seguinte padrão (novamente do ano de menor abundância até ao ano de maior abundância, por ordem crescente): 2016, 2015, 2018, 2010 e 2014.
Serra de Sintra em Setembro
Não encontrámos, portanto, evidências de que os pirilampos de Sintra, estejam a desaparecer, pelo menos, nos núcleos principais, abordados pelo nosso estudo.
A Serra de Sintra, no geral, também oferece geralmente valores inferiores de contaminação lumínica artificial, em relação a todos os outros núcleos estudados no Sul da Estremadura, garantindo assim melhores condições para os pirilampos poderem comunicar entre si (através de sinais luminosos) e com outras espécies de animais.
Possíveis ameaças aos pirilampos de Sintra
Apesar de Sintra apresentar geralmente boas condições ambientais para a preservação dos pirilampos, nós detetámos alguma perturbação significativa em algumas zonas, que seria facilmente evitável: sobretudo acima de São Martinho (na subida em direção ao Palácio da Pena, por exemplo) onde existem várias iluminações artificiais espalhadas por uma área significativa, a iluminar zonas de floresta, a provocar gastos económicos e prejuízos para o ambiente e isto sem praticamente qualquer uso (sempre que vimos as luzes ligadas, nunca vimos ninguém por perto).
No caso concreto dos pirilampos, interfere negativamente com as comunicações luminosas dos mesmos, podendo levar à sua extinção.
Pelo que podemos observar, os machos do género Luciola, por exemplo, tendem a evitar estas zonas, limitando, localmente, a taxa de reprodução da espécie, ignorando as fêmeas que brilham em zonas influenciadas por demasiada luz artificial. Quando rodeados de candeeiros, os machos podem ficar confusos, e já foram vistos a voar contra paredes e muros.
Relativamente à Lamprohiza paulinoi, o nosso projeto, já observou várias fêmeas adultas, desta espécie, a brilhar debaixo de candeeiros de iluminação publica (que estavam literalmente a iluminar mato), portanto tal como no caso do género Luciola, os machos desta espécie, evitam zonas com luz artificial excessiva.
Sul da Estremadura, fotografado do espaço durante a noite:
Sintra está assinalada dentro do quadrado amarelo (Fonte)
Semelhante comportamento temos observado também em espécies de Lampyris.
Um estudo realizado na Suíça, revelou que os machos de Lampyris noctiluca, não conseguiam detetar as armadilhas luminosas (que imitavam as luzes produzidas pelas fêmeas) que foram colocadas debaixo dos candeeiros de iliuminação pública e assim que foram desligadas as luzes dos candeeiros, os machos rapidamente voaram até às luzes colocadas pelos investigadores (Fonte).
Os pirilampos de Sintra, aparecem em narrativas antigas, algumas com séculos de existência e a serra atualmente também tem sido palco de caminhadas noturnas para a observação de pirilampos, pelo que apelamos a todos que pretendem usufruir deste espetáculo, que o façam de forma consciente, senão no futuro tudo não passará uma lembrança.
O nosso projeto irá continuar a estudar os pirilampos de Sintra.
Serra da Carregueira
A Serra da Carregueira é basicamente um conjunto de colinas, que se ergue a cerca de 8 kms de Sintra, sendo mais acidentado do que o relevo em redor, ao atingir 334 metros, no marco geodésico de Aruil.
Os solos são sobretudo derivados de calcários, de arenitos e de conglomerados cretácicos.
É na Serra de Carregueira, que nascem os principais cursos de água, que desaguam no Atlântico, entre Lisboa e Oeiras, como por exemplo, o Jamor.
O clima é ligeiramente mais quente que a Serra de Sintra e menos húmido (pois fica a Leste de Sintra e é de menor altitude).
Predominam aqui os elementos florísticos termomediterrânicos: carvalho-cerquinho, sobreiro, loureiro e medronheiro, em vales e junto a cursos de água (o carvalhal de zona húmida e quente de Gonçalo Ribeiro Telles) formando por vezes, pequenas parcelas de floresta, enquanto em zonas abertas e com mais afloramentos rochosos, predominam carrascais, zambujais, urzais e tojais.
Em algumas zonas húmidas cresce o Macaronésico feto-dos-carvalhos e o Eurossiberiano, amieiro.
O lódão-bastardo e o freixo, também crescem em alguns pontos da Serra.
Alguns gastrópodes fotografados na Carregueira
A ecologia dos pirilampos da Carregueira
Na Serra da Carregueira o nosso projeto encontrou 4 espécies de lampirídeos.
Temos monitorizado esta serra, desde 2012 até ao presente, com pelo menos, uma visita mensal, sendo que em certos anos, o número das visitas mensais, chegou a pelo menos 15, sobretudo em fases de maior atividade dos pirilampos adultos.
O género Luciola, atinge aqui o pico de atividade na fase adulta, sobretudo algures entre a segunda quinzena de Maio e a primeira quinzena de Junho, com observações de adultos feitas de Março a Julho.
Na Serra da Carregueira, observou-se uma maior densidade de larvas de Luciola em zonas de floresta dominadas pelo carvalho-cerquinho e pelo sobreiro.
As margens dos ribeiros, sobretudo quando cobertas por vegetação ripícola, constituem igualmente zonas importantes para as fases larvares dos pirilampos locais, sendo vistas aqui larvas ativas, mesmo durante as fases mais secas do ano (e até a utilizarem o leito seco de ribeiras (como a de Barcarena), para caçar e se abrigar, caso haja humidade suficiente).
Quando nesta zona, começam as chuvas de outono (sobretudo em Outubro), por vezes, encontram-se larvas de Luciola a surgir de abrigos que se situam bem longe de linhas de água, sugerindo que as mesmas conseguem encontrar locais húmidos o suficiente, no solo, para passar todo o verão.
Poderão seguir os rastros das suas presas, (como lesmas e oligoquetas, que são mais exigentes em humidade do que os caracóis) ou simplesmente poderão entrar em pequenos túneis à procura de lugares húmidos e alimento para poder passar o período seco estival em segurança, que pode durar alguns meses (nesta região, normalmente são 4 meses).
Túneis produzidos por minhocas
Em Espanha, já foram encontradas larvas de Lamprohiza e Nyctophila, em substratos rochosos (cársticos) subterrâneos, enterradas em leitos de cursos de água temporários provavelmente à procura de presas e/ou abrigo (Fonte).
Pelo que as nossas investigações têm constatado as jovens larvas de Lamprohiza e Luciola sp. desidratam facilmente (por exemplo, uma larva de Lamprohiza com 5 dias de vida e cerca de 2 mm de comprimento, pode morrer em menos de 24 horas, à sombra, a uma temperatura de 22ºc, se não tiver uma fonte de humidade por perto).
Nesta região, isso significa, que quando a estação seca estiver no auge e os níveis de água no solo, consequentemente ficarem muito baixos, muitas larvas que nasceram na Primavera, ainda serão muito pequenas e sensíveis à desidratação para conseguirem sobreviver nos substratos superficiais do solo (pelo menos a profundidades que poderão ir até 30 cms ou mais).
A lesma leopardo está presente na Carregueira
Sabemos que a L. paulinoi ocorre aqui, por vezes em zonas elevadas e inclinadas, longe de cursos de água (mesmo os temporários) e em terrenos constituídos por derivados de calcários e arenitos e com fraca capacidade de retenção de água (nestas zonas, a vegetação apresenta-se esparsa, constituída por urzes, carrascos e abróteas, por exemplo).
No núcleo da Carregueira, contudo, a maior população de Lamprohiza paulinoi, que conhecemos, ocorre numa zona baixa, junto às margens de um caminho (sobretudo em aglomerações de rochas), que são sombreadas por sobreiros, heras e carvalhos-cerquinhos e junto à Ribeira de Barcarena e onde ocorrem vários moluscos terrestres, como a lesma-leopardo.
Nesta Serra, também existe a Lampyris iberica, que ocorre aqui, na fase adulta, sobretudo durante os meses de Junho, Julho e também, ainda que em menor número, em Agosto.
As larvas de Lampyris têm sido visíveis aqui sobretudo na Primavera e no Outono, mas por vezes, também observamos larvas de grandes dimensões, no verão, provavelmente à procura de um bom lugar para pupar (como uma zona aberta e com boa visibilidade).
Na Serra da Carregueira, os machos de Luciola lusitanica, são vistos a brilhar, sobretudo em zonas arbustivas e abertas, muitas vezes constituídas por carrascais, mas também pelos géneros Erica, Rosa e Rubus e Lonicera, mas também atingem grandes concentrações em carvalhais, utilizando caminhos feitos por pessoas para fazer os seus vôos nupciais
Logo embaixo, está uma imagem retirada do Google Maps, de um local que fica junto à Carregueira (e tem corredores naturais ligados a esta Serra) e que apesar de aparentar ser um lugar inóspito para pirilampos, na verdade, alberga uma grande população de Luciola sp e de Lampyris iberica, uma população assinalável de Nyctophila reichii e um pequeno núcleo de Lamprohiza paulinoi (sendo que as últimas nunca são, pelo menos neste local, tão comuns como em Sintra ou em Monsanto):
As linhas verdes que vemos na imagem em cima, são constituídas sobretudo por zambujeiros e carrascos, que aqui têm pequenas dimensões, pois crescem numa zona rochosa, mas que são usados pelos lampirídeos locais, para se proteger do sol, do vento, assim como para depositar os seus ovos e caçar as suas presas.
Os pirilampos da Carregueira estão em risco?
Não notámos um declínio evidente no núcleo principal da Serra e identificámos, entre as áreas prospetadas: pelo menos 4 zonas com grande densidade de pirilampos (contagens superiores a 300 indivíduos adultos em cada 550 metros percorridos).
Para verificar se está a ocorrer um declínio na Serra, estudámos sobretudo duas populações, durante os anos de 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2018 e 2019.
Uma população situa-se no interior da Serra da Carregueira e a outra, situa-se num espaço verde perto de uma zona urbana (nos arredores da Serra da Carregueira) pois queríamos aferir, de que forma os pirilampos, se conseguem adaptar a viver nestas circunstâncias.
Em ambas as populações, não verificámos um decrescimento.
Para fazermos as contagens, utilizámos a mesma metodologia que em Sintra: realizámos contagem de adultos durante os períodos de maior abundância e em percursos fixos, iniciando a volta antes do anoitecer.
A abundância para a espécie Lamprohiza paulinoi, no espaço verde situado em zona urbana (foi estudado nos anos de 2014, 2015, 2018 e 2019) distribuiu-se da seguinte forma (do ano de menor abundância até ao ano de maior abundância, por ordem crescente): 2018, 2014, 2019 e 2015.
Em 2015, numa só noite e apenas num local deste espaço verde (com uma área de cerca de 50 metros quadrados), chegámos a contar 45 fêmeas de Lamprohiza paulinoi, e 43 das quais situavam-se num campo que tinha ardido, há 5 dias atrás. As fêmeas encontravam-se junto a rochas, que provavelmente as terão abrigado, do calor intenso do fogo. Um macho, foi encontrado a copular com uma das fêmeas.
Imagens do incêndio que ocorreu em 2015
Na área ardida, houve contudo um decréscimo geral, nos pirilampos observados desde então, mas já se nota a colonização a partir de áreas circundantes, tendo sido observadas larvas de Luciola sp. nos primeiros 10 metros de área ardida, em 2018.
Os incêndios, só serão um problema sério para os pirilampos, se forem extensos e se ocorrerem com muita regularidade.
Além do género Lamprohiza, também estudámos o género Luciola, neste espaço verde, sobretudo durante os anos de 2014, 2015, 2017, 2018 e 2019 e este pirilampo distribuiu-se da seguinte forma (do ano de menor abundância até ao ano de maior abundância, por ordem crescente): 2015, 2017, 2018, 2019 e 2014.
Já no interior do perímetro da Serra da Carregueira, acompanhámos, também o género Luciola, e pela mesma ordem crescente (do ano de menor quantidade até ao ano de maior quantidade), verificámos o seguinte padrão: 2016, 2013, 2015, 2018, 2012 e 2014.
Também investigámos uma população de Lampyris iberica (sobretudo durante os anos 2012, 2013, 2014 e 2015), que também existe neste local da Serra da Carregueira, e de novo, apresentamos, a mesma ordem crescente (do ano em que verificámos menor abundância até ao ano em que detetámos maior abundância): 2015, 2013, 2012 e 2014.
Não detetámos, portanto, sinais óbvios de declínio, mas fora das duas zonas principais de estudo, verificámos que existiam iluminações em excesso, em algumas localidades, pois estavam localizadas em locais ermos (que portanto não justificavam a sua presença), e tal provocava efeitos negativos nas populações locais de pirilampos, aspeto este, já documentado pelo nosso projeto em Novembro de 2018 (Fonte).
As investigações sobre os pirilampos da Serra de Carregueira, irão prosseguir.
Bom habitat para ocorrência de pirilampos (Carregueira)
Serra de Monsanto
A Serra de Monsanto, trata-se de uma elevação que atinge a altitude máxima de 227 metros, com solos essencialmente calcários no Centro e basálticos, nas zonas envolventes, possuindo como tal, vários cursos de água de carácter torrencial.
Bioclimaticamente, predominam os andares Termomediterrânicos, sobretudo Sub-Húmidos mas localmente podendo ir a Secos, com a ocorrência de sobreirais, de zambujais e de associações entre o sobreiro e a azinheira ou o zambujeiro e o aderno. Também ocorrem pinhais, dominados, pelo pinheiro-manso, que foram provavelmente plantados pelo Homem, durante o processo de reflorestação da Serra (ainda que o pinheiro-manso seja uma árvore autóctone em Portugal).
Ocorrem aqui também pequenos carvalhais de carvalho-cerquinho, mais raramente de carvalho-negral e ainda mais raramente de carvalho-alvarinho, sugerindo a possível influência de andares bioclimáticos mais frescos e húmidos, pelo menos em alguns locais.
Em várias partes, ocorrem também árvores exóticas, que formam florestas: eucaliptos, pinheiros-de-alepo e cedros, por exemplo.
Os pirilampos do pulmão verde de Lisboa
O Parque Florestal de Monsanto, tem sido monitorizado pelo nosso projeto, desde 1997.
Foi-nos possível identificar 4 espécies de pirilampo (sendo aqui rara a Lampyris iberica) e ainda existem setores com populações relativamente numerosas de Luciola, particularmente a norte da A5, mas existe uma variação assinalável nos números observados de ano para ano (provavelmente de acordo com padrões meteorológicos que por sua vez influenciam a abundância das presas e o sucesso durante a fase da eclosão e o crescimento das larvas, por exemplo).
Carvalho-cerquinho em Monsanto (Fonte)
O género Luciola, na fase adulta, atinge aqui maior abundância sobretudo durante a fase final de Abril e a primeira quinzena de Maio, com a presença confirmada de adultos a ocorrer desde Fevereiro a Julho, sendo que normalmente começam a surgir como adultos em Março, terminando a estação de reprodução em Junho.
A espécie Lamprohiza paulinoi, ocorre igualmente em Monsanto, aparecendo aqui, como adulta, normalmente no mês de Abril, estendendo o período da sua ocorrência, até Maio, tendo maior frequência desde finais de Abril até meados de Maio.
A quarta espécie que aqui ocorre, é a Nyctophila reichii, e encontra-se relativamente bem distribuída pelo parque, ainda que segundo uma investigação (ainda em curso) que estamos a realizar (além da deteção visual das fêmeas, utilizamos luzes LED para atrair e contar os machos da espécie), parece haver um decréscimo, pelo menos, na zona que temos estado a monitorizar.
Dados obtidos nos anos 2006, 2008, 2014, 2018 e 2019, levaram-nos a concluir, que a quantidade de machos, observada em 2006 nunca mais se verificou posteriormente, pelo menos segundo o que podemos observar (nem sequer a 50%).
No entanto, esta investigação ainda se encontra em curso e ainda é cedo para tomar conclusões (pretendemos também cobrir uma área maior).
Fêmea adulta de Nyctophila reichii em Monsanto.
Haverá um declínio?
As últimas observações sugerem que existe um declínio notório em alguns locais (sobretudo nos locais mais frequentemente monitorizados pelo nosso projeto), tanto no número de adultos, como no número de larvas observadas (em particular do género Lamprohiza e Luciola, e possivelmente também do género Nyctophila) e sobretudo a Sul da A5.
No caso do género Lamprohiza, nem todos os locais apresentam um decréscimo que seja evidente, pelo menos, à primeira vista:
Em uma zona constituída sobretudo por pinhal (pinheiro-manso) e algumas clareiras com pastagens, fizemos uma contagem baseada em avistamentos de fêmeas adultas e larvas de uma população de Lamprohiza paulinoi, assim como utilizámos uma armadilha luminosa para atrair machos adultos desta espécie, nos anos de 2008, 2009, 2013, 2014, 2015 e 2016.
As saídas iniciavam-se antes de anoitecer, em períodos de maior abundância da espécie e os percursos utilizados eram os mesmos.
Armadilha luminosa utlizada (luz fluorescente)
Do ano de menor para o de maior abundância (ordem crescente) obtivemos a seguinte ordem: 2013, 2009, 2014, 2015, 2016 e 2008.
As diferenças foram geralmente subtis, mas antes de fazermos a contagem de Lamprohiza (nos anos de 2005, 2006, 2007), conhecíamos duas populações que se situavam em locais específicos desta mata e que entretanto desapareceram (e segundo as nossas observações, nenhuma nova população emergiu nesta floresta) e muito provavelmente tornariam o fosso entre o primeira e a última fase de observações, ainda maior.
Mais óbvio, foi o declínio do género Luciola nesta mata, durante as nossas investigações, pois fizemos aqui trabalho de campo em 2006, 2009, 2013, 2014, 2015 e 2016 para fazer observações sobre estes pirilampos.
Em 2018, apenas foram feitas duas observações, e durante fases menos importantes, portanto, sem qualquer relevância para a nossa análise.
Temos a percepção pessoal de observar significativamente menos larvas, sobretudo a partir do período 2010-2015 até ao presente, sendo as larvas localizadas através dos seus sinais luminosos (mas depois iremos publicar algo mais detalhado sobre as observações das fases larvares).
Os anos em que contabilizámos maior abundância de adultos de Luciola nesta floresta, foram os seguintes (por ordem crescente): 2018, 2016, 2009, 2015, 2013, 2014 e 2006. Se usarmos apenas as datas, para tentarmos encontrar evidência de um padrão sustentado de decréscimo ao longo do tempo, podemos encontrar alguns obstáculos, mas o fosso entre 2006 e 2014 (o segundo ano de maior abundância, dentro do período estudado), é muito grande (tendo havido um decréscimo de cerca de 340%, e desde então nunca mais recuperou).
E para reforçar a possibilidade de haver um declínio, na nossa base de dados, temos os resultados de algumas visitas de campo ocasionais realizadas antes de 2006 e as diferenças ainda se tornam maiores.
A Norte da A5, existe um setor particularmente contínuo, com vários habitats favoráveis à presença de pirilampos (zambujais, sobreirais, pastagens, e cursos de água temporários), onde também vivem outras espécies «sui generis» como centopeias bioluminescentes (geofilomorfos e litobiomorfos, por exemplo) que podem atingir dimensões consideráveis e são capazes de emanar em caso de stress um líquido luminoso ou brilhar através de diferentes partes do corpo.
Para este setor e segundo as nossas investigações, ainda é cedo para discernir a possibilidade de haver um declínio (pois serão precisos mais anos de observações), ainda que tenhamos deixado de observar larvas de Lamprohiza paulinoi, em um zambujal, onde eram antes encontradas em grande abundância (mais propriamente antes de 2015).
O pulmão verde de Lisboa visto do espaço
Quais as possíveis causas para o declínio?
As nossas investigações encontraram evidências de declínio, em pelo menos dois setores do Parque, justamente os que temos monitorizado durante mais tempo e desconfiamos que o mesmo se esteja passar em mais zonas da Serra, mas para estes casos, ainda falta recolher mais dados, para ter a certeza.
Nos dois setores, onde testemunhámos um claro decrescimento das populações, não observámos alterações importantes no habitat, pelo menos, que justificassem tal declínio.
Não foram instaladas luzes artificiais, dentro do núcleo florestal estudado, ainda que nas zonas circundantes, haja um provável aumento da influência de luz artificial (direta e indireta («sky glow»)), devido ao corte de algumas árvores, que serviam de proteção e também ao aparecimento de novos edifícios.
Contudo, em boa parte do interior da floresta, pensamos que as condições continuam escuras o suficiente, para que os pirilampos consigam comunicar entre si (uma vez que testemunhámos fêmeas com machos e usámos LEDS para atrair os machos, com sucesso).
Também observámos larvas de 4 espécies, a emitir sinais luminosos.
As larvas de Lamprohiza paulinoi, que foram observadas neste pinhal, normalmente tinham pelo menos 1 ano e brilhavam uma luz contínua, atráves dos seus órgãos luminosos laterais, provavelmente em resposta ao movimento e barulho que produziamos ao nos aproximar.
Pelo que podemos constatar em cativeiro (foram investigadas larvas que resultaram do resgate de 2018 (Fonte)) não emitem apenas sinais luminosos constantes em caso, de perturbação, pelo menos em todos os estágios de desenvolvimento, pois vimos larvas muito pequenas (com cerca de 3 mm de comprimento), em grupo, a emitir brilhos de pequena duração, produzindo sinais luminosos que duravam desde 1 segundo até 19 segundos, repetindo brilhos de apenas 1 segundo por 2 ou 3 vezes, fazendo também sequências seguidas de 3 brilhos que duravam 2 segundos ou até 4 segundos cada, e sequências consecutivas de 2 brilhos que duravam apenas 1 segundo. Destas larvas, duas foram vistas a produzir simultâneamente, dois brilhos que duraram 15 segundos, apagando as luzes por 2 segundos para as voltarem a acender por 16 segundos.
Também observámos vários indivíduos a acender as luzes em simultâneo e a produzir brilhos de curta duração, sem qualquer perturbação aparente (não houve toque, vibração ou barulho).
Com tantas larvas a brilhar perto uma das outras, deve ser difícil para um predador escolher qual atacar, além de que os sinais luminosos espontâneos, produzidos durante a locomoção das larvas, podem ter uma função aposemática.
Portanto, este aspeto comportamental importante, não se encontra inibido, pelo menos, nas partes centrais desta floresta, onde vimos larvas de pirilampos (Luciola e Lampyris) também a brilhar espontâneamente.
Neste pinhal, não se encontraram evidências de pisoteio intenso e generalizado (aliás, ao longo dos anos, foram observadas poucas pessoas no local estudado).
É certo que houve pelo menos uma fase de corte de arbustos, de algumas árvores e de um silvado (e para tal foram utilizados tratores) mas tal perturbação foi muito pontual e sucedeu somente ao longo do caminho pedestre principal (que já existia na área), e com um alcance lateral de apenas cerca de 2 a 3 metros.
Magnífico pinhal (Pinus pinea) em Monsanto
Praticamente quase toda a vegetação original permaneceu na área e o topo dos solos, em geral, permaneceu intacto, sem quaisquer evidências de pisoteio.
Portanto, mesmo em zonas onde não houve intervenção, verificou-se um declínio nas populações de pirilampos.
O declínio deve-se a motivos climáticos? A cobertura arbustiva, que é fundamental para fertilizar os solos, filtrar os raios solares, e proteger a superfície do solo florestal, do vento e do excesso de desidratação, encontra-se aqui esparsa e só localmente forma núcleos densos.
Mas acima de tudo, os solos, neste pinhal, parecem ser bastante porosos, pelo menos na sua parte superior e se ocorrerem mais anos secos do que é normal, as gerações imaturas de pirilampos, poderão ter mais dificuldades em chegar à idade adulta.
Uma vez que os pirilampos em Portugal, segundo as informações de que dispomos, normalmente vivem cerca de 2 anos (podendo ocasionalmente viver desde 1 a 3 anos) e sendo quase todo esse tempo vivido no estado larvar, decidimos analisar os dados climáticos do IPMA, para tentar arranjar uma correlação entre anos de menor ocorrência (neste caso, 2015, 2016) e períodos mais secos. Isto porque os pirilampos, geralmente dependem bastante da água, não só para não morrerem de desidratação, como para poderem ter acesso às suas fontes principais de alimento (lesmas e caracóis).
Nesta zona ocorre a Parmacella valencienni
Nas análises realizadas, em baixo, 100% equivale ao que é normal chover, segundo a média climatológica registada para o período de 1973-2000:
2013-2015- O ano de 2013, teve um período mais húmido do que a média que durou de Janeiro até Maio, (apenas com a excepção de Fevereiro, que recebeu apenas 62 % da precipitação média) e que fez com que a precipitação até Maio, estivesse 43% acima do normal (143%) no geral.
Os 4 meses secos de verão receberam somente 59% do que seria normal, enquanto o Outono começou com muita chuva (Outubro com 75% acima da média) mas acabou por se tornar seco, em Novembro (12%).
Em Dezembro de 2013 choveu menos do que a média (menos 13% do que seria normal chover), mas o ano de 2013 acabou ainda por ser considerado, como acima da média, em termos de precipitação (cerca de 105%).
O ano de 2014, começou com bastante chuva (Janeiro e Fevereiro, com uma média combinada, duas vezes acima do que é normal), enquanto Março, Abril e Maio, tiveram uma média apenas 9 % abaixo do normal). Os 4 meses seguintes, tiveram uma média combinada 74% acima da média, enquanto, em Outubro e Novembro, choveu cerca de duas vezes mais do que é normal (206%). Ainda que Dezembro de 2014, tenha sido seco (37%), o ano de 2014 acabou por ser considerado um ano bastante húmido (140%).
Aspeto da Serra durante as chuvas (Fonte)
Resta-nos fazer a análise para 2015: em Janeiro e Fevereiro acabou por chover cerca de metade do que seria normal (52%), e em Março, Abril e Maio, acabou por não ser muito diferente, com os 3 meses a registarem menos 46% do que seria normal, apesar de Abril até ser sido bem chuvoso (112%).
Os quatro meses secos de verão, também só registaram metade da média.
Convém salientar que desde Dezembro de 2014, que as precipitações estiveram abaixo da média e foi sempre assim até ao início das observações (os pirilampos foram investigados desde Abril até Junho de 2015), apenas com a exceção de Abril, que foi bastante húmido.
Contudo e tendo em conta os valores acumulados anteriormente, é difícil dizer, se a falta de chuva, foi a razão principal, pelo declínio verificado em 2015 (poderá contudo ter contribuído negativamente).
As chuvas abundantes, poucas semanas antes da aparição dos adultos, podem ser consideradas benéficas (pois incitam as larvas a procurar mais alimento, o que poderá ser fulcral, para a produção de mais ovos nas gerações futuras de fêmeas adultas por exemplo), assim como podem induzir larvas que ainda são algo pequenas, a comerem/crescerem mais depressa, e a tornarem-se adultas ainda no mesmo ano.
A dar algum suporte, ao que foi dito anteriormente, antes de fazermos registos regulares, visitámos algumas vezes esta colónia, e houve um ano, em que uns dias após os últimos adultos de Luciola serem observados, (já em meados de Junho), ocorreram durante uns dias, uns fortes aguaceiros, que tornaram esse mês bastante mais húmido do que é normal.
Em Julho, inesperadamente, aparecem vários adultos desta espécie de pirilampo, prolongando assim a estação dos adultos, praticamente quase até Agosto, como nunca tinha sido observado antes.
2014-2016: Já temos os dados de 2014 (ano considerado muito chuvoso, com 40% acima do normal) e 2015, como vimos acima, registava, até Setembro, apenas cerca de metade do que seria normal (51%). Outubro de 2015 acabou por ser muito chuvoso (225%) enquanto Novembro foi significativamente mais seco do que o normal, assim, como Dezembro (ambos registaram menos 63% de precipitação em relação à média).
2015 acabou registar um acumulado anual 36% abaixo do que seria normal.
2016, de Janeiro até Maio, foi bastante húmido (151%), sendo que apenas Março, registou menos 13% do que seria normal.
A observação mais importante de adultos, foi realizada em Maio de 2016, e portanto, desta vez, não encontrámos qualquer evidência de que a menor quantidade observada de adultos, em 2016, esteja sobretudo relacionada, com a falta de chuva.
Possíveis condições meteorológicas favoráveis à ocorrência de pirilampos
Na nossa opinião, neste regime mediterrânico e com este tipo de solos e cobertura vegetal, são especialmente benéficas as chuvas outonais e primaveris e seguidamente os aguaceiros esporádicos de verão, sobretudo devido aos níveis elevados de evapotranspiração, que podem ser registados nesta zona, durante essas fases do ano.
Se o tempo se mantiver relativamente ameno e húmido durante o inverno, será como uma extensão outonal e portanto com efeitos igualmente positivos.
Os invernos, frios e secos, em princípio, não serão um problema grave, se os outonos foram chuvosos, pois as larvas conseguem aproveitar as reservas acumuladas no outono e debaixo de acumulações de detritos vegetais e rochas, podem encontrar bons níveis de humidade e algumas presas.
Os dias curtos e frios, fazem com que haja pouca evaporação e o nosso projeto tem visto larvas de Luciola ativas, mesmo em noites de tempo anticiclónico de Janeiro, quando os dias frios e ensolarados, já duram há mais de um mês.
Durante as primeiras horas da noite, em especial quando a temperatura ainda está bem positiva (em torno de 6, 7 ou 8 graus), e em locais abrigados do vento e do sol, por vezes, observam-se larvas de Luciola a caçar, movendo-se lentamente, à procura de oligoquetas e moluscos.
Um monte de folhas e ramos, por exemplo serve de refúgio, para as horas mais frias da noite, podendo-se encontrar por vezes 9 larvas em amontoados com cerca de 15 cm de altura e que ocupam apenas cerca de 50 cm quadrados.
Durante a fase adulta, pensamos que é importante, a ocorrência de pelo menos, algumas noites amenas e tranquilas, para facilitar o vôo dos machos e aumentar a taxa metabólica dos insetos (em ambos os sexos), pois temperaturas demasiado baixas (abaixo de 12 graus, por exemplo) diminuem a atividade física dos adultos.
Refúgios importantes
Este setor florestal, dada a pequena área que ocupa, a configuração do terreno, a vegetação e a exposição aos elementos, tanto quanto conseguimos apurar, tem apenas 3 zonas principais que poderão servir de refúgio para as suas populações de pirilampos, em caso de sucederem mais anos secos, do que é normal.
Será o decréscimo acelerado atual apenas uma tendência temporária e assim que surgirem períodos mais húmidos, as espécies de insetos luminosos, voltam a tornar-se mais numerosas e chegam ter a glória que observámos em épocas passadas?
Não sabemos ainda, até porque, pelo menos para esta população em concreto, não sabemos ainda quais são as causas de declínio.
E a ser verdade, isso dependeria muito da posição geográfica das 3 «microzonas» que servem de refúgio climático, que não são propriamente favoráveis para uma rápida expansão (duas estão localizadas no limite Norte, já perto de uma zona urbana) e da própria capacidade de colonização das populações locais de pirilampos, mediante as condições presentes «in situ».
Sabemos, contudo, que os períodos húmidos, são essenciais para promover a expansão das populações, até áreas, que de outra forma, não o fariam.
Os machos conseguem voar, mas as fêmeas não, e quando são adultas, pouco se deslocam além do seu posto de iluminação durante a noite e da toca onde se refugiam durante o dia. Serão portanto as suas deambulações, como larva, sobretudo durante o tempo húmido, que irão decidir a colonização de novas áreas através da postura de ovos fertilizados nesse novo território.
Acreditamos que as fêmeas depositam ovos em locais ricos em alimento para as novas gerações de pirilampos.
As fêmeas que obtiveram mais alimento durante a fase larvar, normalmente tornam-se maiores assim como depositam mais ovos, em geral.
Segundo as nossas observações, uma fêmea de Lampyris iberica, com cerca de 15 mm de comprimento e 5 mm de largura, depositou 22 ovos, enquanto uma outra fêmea da mesma espécie, com 22 mm de comprimento e 8 mm de largura, depositou 46 ovos.
O plantio de um medronheiro em Monsanto (Fonte)
Quanto às caraterísticas específicas presentes nesta floresta, e caso seja motivo para uma intervenção no sentido de ajudar a preservar estas espécies, e mitigar possíveis efeitos nefastos de mudanças climáticas, acreditamos, que poderá ser benéfica a presença de troncos e rochas (acima de tudo não devem ser retirados os troncos e ramos caídos na floresta), devem ser plantadas árvores e arbustos autóctones adaptados às condições locais, sobretudo em zonas onde foram cortados ou onde podem assumir um papel de proteção contra o vento, o sol, as mudanças bruscas de temperatura e o excesso de iluminação artificial, vinda do exterior.
Em algumas partes de Monsanto, notámos que existiam iluminações artificiais em excesso (praticamente sem uso), provocando impactos negativos nas populações de pirilampos locais (impedindo-os de comunicar entre si e de sinalizar eficazmente sinais defensivos a potenciais predadores).
As luzes em excesso além de diminuir o sucesso reprodutivo também impediam que diferentes populações tivessem contato entre si, funcionando como uma barreira, impedindo o estabelecimento de corredores ecológicos e criando isolamento e fragmentação, entre diferentes núcleos.
Alguns investigadores, indicam a poluição artificial e a destruição do habitat como um dos maiores inimigos dos pirilampos (Fonte) e salientam a importância da conservação dos corredores ecológicos (Fonte).
Também devem ser respeitados, os leitos de ribeiros permanentes e temporários e a respetiva vegetação ripícola, pois além de regularem o clima, funcionam também como corredores ecológicos (permitindo a migração da fauna entre setores distantes e opostos, mesmo através espaços praticamente urbanos). São igualmente refúgios de grande valor conservacionista, preservando fauna que muitas vezes, representa resquícios raros de eras muito longínquas, quando o clima na Terra era mais estável, húmido e quente.
Leito de ribeiro temporário em Monsanto (Fonte)
Que tipos de habitats os pirilampos locais preferem?
No Parque florestal de Monsanto, o género Luciola atinge maiores densidades em zambujais, pinhais (pinheiro-manso) em eucaliptais (mas ricos em vegetação arbustiva e herbácea) e em campos abertos ladeados de floresta.
A espécie Lamprohiza paulinoi, é relativamente mais comum em Monsanto, do que em Sintra ou na Serra da Carregueira e tem sido avistada sobretudo, em bermas de caminhos de terra batida, em zonas rochosas e em zonas abertas ou de transição entre floresta e campo aberto, podendo contudo, atingir grandes densidades em zambujais, pois tanto larvas como fêmeas adultas, já foram observadas nestas florestas, em grandes quantidades.
As larvas de Lamprohiza, nesta zona, têm sido observadas sobretudo durante o Outono e o Inverno, durante o tempo chuvoso e ameno (tanto no húmus florestal (Pinus pinea e Olea europaea) como em campos abertos (em zonas rochosas).
Durante as fases frias e secas, de inverno, por vezes é possível encontrar larvas desta espécie debaixo de grandes pedras.
As fêmeas normalmente encontram-se em baixos números, sendo possível percorrer 400 metros e apenas observar 2 ou 3, durante a época alta da fase adulta, ainda que em certos locais, atinjam maiores densidades.
Ocorrem normalmente em zonas de transição de floresta para espaço aberto (em taludes, cobertos de vegetação herbácea, ou em muros de pedra, por exemplo).
Habitat propício à ocorrência dos género Luciola e Lamprohiza
Em apenas uma noite de Maio de 2001, foram contadas pelo menos, 155 fêmeas de Lamprohiza e pelo menos 310 machos de Luciola sp. num zambujal com cerca de somente 75 metros quadrados, que fica perto do Parque Florestal de Monsanto (mais concretamente no Restelo)
Neste zambujal, foram observadas as conchas de alguns caracóis (Theba pisana, Cornu aspersum, Rumina decollata, Otala lactea, entre outros).muitos acantos e heras e geologicamente, situa-se no complexo vulcânico de Lisboa.
Apenas é conhecido um local, neste Parque Florestal, onde ocorre a espécie Lampyris iberica e trata-se sobretudo de um pinhal (Pinus pinea) que cresce igualmente no complexo vulcânico de Lisboa, sendo que as larvas desta espécie aparecem em zonas mais ricas em vegetação do que os adultos e perto de ribeiros temporários e de um curso de água permanente.
Fêmea adulta de Lampyris (Restelo)
Os adultos têm sido avistados sobretudo em Junho e Julho e as larvas têm sido avistadas, durante o tempo húmido e ameno de Outono e Primavera e menos frequentemente no Inverno.
A Nyctophila reichii, entre as espécies já mencionadas, parece ser a que prefere espaços mais abertos e que tolera maiores níveis de aridez, ainda que muita ocasionalmente possam ser encontradas fêmeas a brilhar em espaços florestais densos (pinhal e zambujal).
Surge aqui em estado adulto durante os meses de Junho e Julho (surgindo por vezes em Agosto).
As larvas têm sido raramente observadas, e quando tal sucedeu, foi durante os períodos chuvosos e temperados do Outono e do Inverno.
Esta espécie, ainda há relativamente pouco tempo surgia em zonas, que atualmente foram urbanizadas ou que têm sofrido grandes alterações, como no Alto da Ajuda.
Floresta dominada pelo zambujeiro
No zambujal apresentado em cima, já foram avistados mais de 400 machos de Luciola, durante 30 minutos de observação e numa área de apenas cerca de 70 metros quadrados.
Aqui observámos uma «bola de pirilampos», ou seja basicamente mais de 15 machos juntos a tentar acasalar apenas com uma fêmea.
Os solos aqui são constituídos sobretudo por calcários com rudistas e são ricos em matéria orgânica.
O nosso projeto irá continuar a monitorizar os pirilampos do Parque Florestal de Monsanto.
Queluz/Carnaxide/Jamor
Antes de passarmos, para as zonas urbanas, propriamente ditas, gostaríamos de fazer menção a uma área, que compreende parte de Queluz. Carnaxide e o Rio Jamor (e suas margens, naturalmente).
Na realidade, estas 3 áreas, estão próximas umas das outras e existem corredores naturais que as conectam (em algumas partes).
Encontrámos 4 espécies de lampirídeos na Serra de Carnaxide, 3 espécies em Queluz e 4 espécies junto ao Rio Jamor.
No vale do Jamor, foram detetadas quantidades assinaláveis de Luciola e de Lamprohiza (35 fêmeas adultas, contadas em 450 metros percorridos no vale (a 11 Maio de 2010, por exemplo) e foi encontrada uma variação rara da espécie Lampyris iberica, com quatro pontos claros, no pronotum.
A maior parte dos pirilampos do Jamor, são encontrados nas margens do rio e nas matas em redor (pinhais e alguns zambujais).
As nossas investigações sugerem contudo que possa haver um declínio (algo significativo) nas populações de Luciola presentes na zona do Jamor.
No passado, por vezes ocorriam densidades elevadas desta espécie (particularmente junto ao rio), sendo possível contar durante a fase de maior atividade dos adultos (Maio), pelo menos 400 machos adultos após cerca de 500 metros percorridos, causando um agradável fenómeno visual, mas tal densidade não tem sido testemunhada já desde há alguns anos até ao presente (após visitas feitas em alturas chave e durante anos diferentes (desde 2008 até 2019).
Para contar 550/560 machos de Luciola, mais recentemente, foi preciso andar cerca de 1600 metros.
Ainda que este declínio local não esteja ainda completamente provado, pensamos que já existe uma boa base empírica, para sugerir tal hipótese e inclusivamente podemos adiantar que duas causas, poderão ter contribuído fortemente para este declínio: a instalação excessiva de iluminação artificial e a destruição do habitat ribeirinho (mobilização do solo e destruição da vegetação ripícola (que pudemos testemunhar diretamente) e que aliás pode ser observada na foto embaixo:
Rio Jamor (foto de Rui Silva)
E este setor nem foi o mais afetado, pois na zona mais baixa do vale, uma retroescavadeira, andou ao longo do rio, por mais de 1000 metros, a arrancar o topo dos solos das margens e a empilhar toneladas de solo ao lado do rio. Passados poucos meses, a vegetação crescia em força de novo (demonstrando que tal esforço e dinheiro gasto a tentar destruir a vegetação que crescia ao longo do rio, tinha sido em vão) , mas quem não apareceu de novo, foram as «nuvens» de pirilampos que aí ocorriam.
Não é sustentável, tal destruição, não só porque a vegetação ripícola ajuda a controlar o avanço excessivo de águas para exterior do curso normal do rio em caso de cheias, como a mesma cria a indispensável sombra (diminui também a evapotranspiração) e serve igualmente de abrigo para inúmeras espécies de seres vivos, que certamente têm um papel importante a desempenhar nos ecossistemas ribeirinhos.
Em Queluz, foi encontrada uma população numerosa de Luciola (contagens superiores a 300 machos adultos em 600 metros percorridos), a viver num sobreiral bastante antigo, rico em manta morta (nesta floresta também ocorrem adernos, loureiros, folhados, carrascos de porte arbóreo e medronheiros):
Mata praticamente climácica em Queluz
A floresta que está na fotografia em cima, foi monitorizada, durante alguns anos, pelo nosso projeto.
Tendo em conta a invasão de espécies infestantes a uma floresta tão antiga e o excesso de iluminação artificial local, resolvemos contatar os serviços municipais, que rapidamente souberam agir, retirando grande parte das iluminações exteriores e procedendo a uma ação controle de infestantes, como se pode ver aqui:
Gostaríamos portanto de agradecer à Câmara Municipal de Sintra (Parques de Sintra Monte da Lua)), por terem tomado atenção às nossas comunicações e por terem agido de forma prática e eficaz.
Na Serra de Carnaxide, foram encontradas 4 espécies de lampirídeos, sendo que neste perímetro é relativamente abundante a Lampyris iberica, tendo sido feitas aqui, as maiores contagens de fêmeas adultas de o todo Sul da Estremadura (inclusivamente, Sintra).
Em certas noites foram encontradas cerca de 30 fêmeas adultas, em apenas 400 metros percorridos.
Estas fêmeas surgem em baldios e campos abertos (ricos em vara-de-ouro, por exemplo), com grande abundância de caracóis (Theba pisana, Otala lactea, Cernuella virgata, entre outros) que crescem nos solos férteis da Serra (Vertissolos).
Serra de Carnaxide
No Bairro do Restelo, um zambujal antigo, com cerca de 75 metros quadrados, abrigava até 2008 (as observações iniciaram-se em 1997), Luciola sp e mais outras 3 espécies de pirilampos: Lamprohiza paulinoi, uma espécie ainda por identificar e hoje apenas tem sido observada uma espécie (Nyctophila reichii) e em densidades muito mais baixas do que no passado.
Terá sido esta a primeira prova documentada em Portugal, do desaparecimento de populações de pirilampos (mesmo dentro de espaços florestais).
Segundo o que o nosso projeto, conseguiu apurar, muito provavelmente foi a remoção excessiva de húmus florestal, assim como de plantas e troncos, que causou o desaparecimento destas populações.
Este caso, já foi apresentado aqui no blog (link)
Este ano já visitámos esta floresta, e pudemos confirmar, que a Câmara Municipal de Lisboa, fez realmente um bom trabalho, pois as condições do habitat melhoraram muito ao longo dos anos, as árvores estão saudáveis e isto sem qualquer custo extra de manutenção.
Uma espécie desconhecida, de diminutas dimensões e produtora de pequenos e rápidos «flashes» foi aqui observada na Primavera de 1997.
Seria a Lampyroidea quadrinotata quadrinotata, que é mencionada como presente em Portugal, pela Naturdata? Não sabemos ainda.
O nosso projeto ofereceu alguns pirilampos (preservados em etanol) que foram coletados nestes 3 núcleos à coleção do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, estando assim disponíveis para estudos posteriores, que possam ser feitos em torno destas espécies.
Zonas urbanas
No lado oposto da escala, tendo em conta a pouca área ocupada e em risco eminente de desaparecer, estão algumas populações isoladas, que tentam sobreviver, em locais que alguns considerariam quase impossíveis: como em alguns jardins espaçosos e relativamente escuros, em quintas urbanas, e em pequenas parcelas florestais situadas em Cascais, Oeiras e Lisboa.
Quem diria, que existem pirilampos, em alguns jardins de Santa Maria de Belém, por exemplo!
Imagem aérea de Santa Maria de Belém (Google Maps)
Testemunhámos no entanto algumas extinções locais, como na Amoreira (Alcabideche), mas a espécie subsiste a cerca de 1 km do local estudado.
Como podemos constatar na região (e muito provavelmente em outras regiões também), o género Luciola para se proteger durante a fase de pupa, por vezes constrói casulos feitos com pequenos detritos de ramos e folhas, mas também com lama, como se pode ver embaixo:
Em alguns jardins do perímetro urbano do Bairro de Santa Maria de Belém e da Parede, o género Luciola é substituído pelo género Lamprohiza, (que parece menos afetado pelas luzes da cidade, ainda que ocorra sobretudo em locais escuros) aparecendo aqui em densidades baixas, raramente excedendo os 8 exemplares adultos observados a cada 2 dias e em áreas verdes com uma área compreendida entre cerca de 30 e 40 metros quadrados (isto inclui por vezes, 3 ou 4 jardins, de casas distintas, que na verdade, formam um habitat contínuo para esta espécie, pois tanto larvas como machos têm mais mobilidade do que as fêmeas adultas e conseguem atravessar pequenos obstáculos e por vezes até muros que separam diferentes moradias).
As nossas investigações, permitiram-nos encontrar, em várias ocasiões, pirilampos junto a antigos muros de pedra (tanto larvas como adultos).
Fêmea adulta de Lamprohiza paulinoi
Em zonas urbanizadas, onde ainda sobrevivem pirilampos, ainda que em baixas densidades, verificámos, portanto, que por vezes, basta um jardim ter cerca de 30 metros quadrados, um muro ou uma sebe que o proteja da luz artificial, do sol e do vento, arbustos e alguma vegetação a crescer, onde se deixe algum húmus, para existir uma população pequena de pirilampos.
Por vezes, uma pilha de troncos ou pedras, que ajuda a manter a humidade junto à superfície do solo, também é usada como local de abrigo, de postura de ovos e de alimentação.
Como as fêmeas dos pirilampos urbanos, tentam atrair um parceiro?
Na maior parte das vezes, as fêmeas parecem procurar os locais mais escuros possíveis, para desde aí, tentarem atrair um macho, com a sua luz caraterística.
Quando houve um apagão, no Restelo, foram vistas fêmeas de Lamprohiza paulinoi, a brilhar em locais que normalmente evitariam (como em cima de portões de moradias).
Assim que a iluminação pública voltou a acender, nunca mais foram vistas a brilhar nesses locais, mas antes, em recantos relativamente escuros e no meio da vegetação.
Durante certas noites quentes de primavera, em Santa Maria de Belém, por vezes é possível sentir um aroma resinado/cítrico, que é muito provavelmente produzido pelas fêmeas de Lamprohiza paulinoi.
Em uma noite de Maio, vindo de uma zona asfaltada para uma zona coberta de vegetação, que se situava a cerca de 23 metros de distância, mesmo sem ter visto uma fêmea desta espécie, consegui aperceber-me, pelo aroma, que havia uma fêmea de L. paulinoi por perto.
Sem grande surpresa para mim, encontrei uma fêmea a brilhar, na zona coberta pela vegetação.
Será possível este aroma resinado, percorrer mais de 20 metros? Tendo em conta a direção do vento (que soprava sensivelmente desde o local onde se situava a fêmea), penso que é possível.
Eu acho que é seguro relacionar este odor com as fêmeas desta espécie: após ter manuseado várias fêmeas desta espécie (e tendo algumas tentado atrair um parceiro, com a sua luz, mesmo em cima da minha mão) várias produziram este aroma particular e agradável.
Mesmo após ter solto as fêmeas, o aroma permanecia nas minhas mãos, por vários minutos.
Penso, portanto, que é provável que as fêmeas de L. paulinoi, utilizem pistas odoríferas, pelo menos nesta região, para ajudar os machos a detetar a sua presença (em complemento, às suas sinalizações luminosas).
Como é assegurado o sucesso reprodutivo nestes locais?
Ainda não temos a resposta definitiva, mas fizemos algumas descobertas sugestivas.
Na Reserva Lightalive da Parede, em 2019, chegaram a ser contadas 8 fêmeas adultas de Lamprohiza em apenas 20 minutos de observações.
A maior parte das fêmeas adultas, foi vista a brilhar em agapantos, o que é fácil de entender, pois os caracóis frequentemente procuram estas plantas para se abrigarem, e portanto os agapantos tornam-se assim bons locais de postura para os pirilampos.
Mas outras plantas ou arbustos também servem: nos jardins de algumas casas situadas no Restelo, esta espécie (L. paulinoi) já foi vista junto a heras, acantos, fetos, cedros, buganvílias e até tílias.
Parece-nos que o mais importante, é haver humidade, abrigo e alimento, independentemente, de qual seja a cobertura vegetal.
Uma população de Luciola sp. curiosamente sobrevive isolada no meio de Lisboa, mais concretamente no jardim do Museu de História Natural e da Ciência.
A persistência da espécie, neste local tão pouco habitual, deve-se à vegetação densa, a um solo rico em matéria orgânica (ideal para as fases imaturas) e aos edifícios em redor, que criam assim condições de humidade, alimento e escuridão, suficientes para a sua sobrevivência.
Jardim do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (fonte)
Distribuição geográfica de lampirídeos no Sul da Estremadura
Mais abaixo, estão uns mapas simplificados («Google Maps Find Altitude»), sobre a distribuição de espécies de lampirídeos, que foram observados, no Sul da Estremadura, pelo nosso projeto.
As observações iniciaram-se em 1987/1988, no meu jardim localizado em Santa Maria de Belém, mas foi necessária confirmação posterior e mais recente para produzir estes mapas.
Para ter uma ideia realista e moderna, da situação atual dos lampirídeos do Sul da Estremadura Portuguesa, passaram a contar (para quase todos estes mapas), apenas os dados obtidos a partir de 2008.
Praticamente todas as regiões indicadas nestes mapas, foram revisitadas nos últimos 5 anos.
É possível que com o passar do tempo mais locais sejam adicionados a este mapa simplificado (como algumas zonas de Monsanto, na Serra da Carregueira (em particular, sector que fica a Nordeste e a Norte da Serra de Sintra, por exemplo)), mas penso que já nos dá uma ideia robusta da distribuição dos pirilampos.
Inversamente, também é possível que com o passar do tempo, alguns pontos sejam retirados, dado que já confirmámos o desaparecimento de algumas populações de pirilampos (Amoreira, Restelo e Outeiro de Polima, por exemplo).
A título de curiosidade, foi produzido um mapa, para retratar a presença de um pirilampo que desconhecemos do que se trata (no Restelo), que era fácil de distinguir do género Luciola (que já conheciamos bem), não só no tipo de sinais luminosos produzidos, como nas interessantes dimensões diminutas dos próprios pirilampos. Foram avistados 3 exemplares a voar perto uns dos outros e a produzir flashes com menos de um segundo de intervalo e foram observados de perto.
Na altura, não dispunha de qualquer recipiente para os capturar, e depois os insetos acabaram por voar e ficar fora do alcance.
Mas as nossas investigações sobre este achado, não ficarão por aqui.
Distribuição de Luciola sp. (2010-2019)
Distribuição de Lamprohiza paulinoi (2008-2019)
Distribuição de Nyctophila reichii (2008-2019)
Distribuição de Lampyris noctiluca (2008-2019)
Distribuição de Lampyris iberica (2008-2019)
Espécie desconhecida (L. quadrinotata quadrinotata ?)